quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A Olívia no SNS

Olá! Parece que há gente que anseia fervorosamente pelo relato da minha aventura no Serviço Nacional de Saúde. Como tinha escrito no meu último post mega depressivo (não se pode estar sempre aos pulos e agora literalmente não se pode mesmo) caí no Sábado de manhã. Um dia de Sol perfeito para o meu jogging matinal, preparadissima para dar, mais uma vez, uso ao meu relógio supermegahiperfantástico (a propósito saiu praticamente ileso) quando me estatelo no chão. Ía entrar ao serviço ao meio dia. Depois de quedas de pressão, quedas de glicemia e pânicos inerentes à situação (enfim o aparato standard) lá me conseguiram reanimar. Próxima etapa rumo a casa. Isto muito tempo depois de eu me conseguir levantar. Era só gente a ajudar. Estamos no Porto que mais se podia esperar. Um ciclista deu-me um sumo de laranja cheio de açucar e um senhor foi-me buscar um Perna de Pau dos grandes. Não comi quase nada, deixei-o a derreter-lhe na mão. Ficou com os dedos todos pegajosos e sem sítio onde se lavar. Pronto, tadinho, arrumou o departamento da caridade por uns bons tempos. Cheguei então ao doce lar (palavras com muito sentido). Já comida, semi-recuperada e limpa levaram-me ao trabalho. Não tive um dia fácil como devem calcular. Entretanto o pé inchava assustadoramente. O senhor do perna de pau foi visitar-me. Chegaram-se as 21 horas e estava de saída. Meti-me no taxi direita ás urgências do Hospital de S.João.

Uma aventura no SNS

Táxi parado à porta das urgências. Fui extremamente bem recebida, cadeira de rodas disponibilizada ao minuto zero. Etapa de admissão concluída passámos à triagem. "Então que se passa?" "Fui correr de manhã e caí" "Esbardalhou-se à grande!!" "Onde foi?" (A curiosidade é protocolar em qualquer situação). E foi assim o término da triagem. Pulseira amarela, quase em situação urgente! Menos mal pensei eu!! Viagem na cadeira até à ortopedia, aí uns 15 minutos depois porque entretanto encostaram-me a um canto tipo móvel, assim como que para não estorvar. Estava tudo muito descansado na ala, o plasma dava o "One Herman Show" lá se colaram todos no "és tão boua". Entretanto requisitei um utente para fazer de assistente. Era preciso ir buscar água e comida, o rapaz tinha um bom par de pernas (mesmo, devia ser atleta) por isso não lhe deve ter custado nadinha, ou quase. Estava manco mas andava melhor que eu. Passada mais uma hora chega uma senhora malcheirosa na cadeira de rodas. Arrumaram-na ao meu lado e estava desejosa de trocar ideias acerca da nova condição. Claro que não me apetecia falar com ela. Eu já não sou de grandes falas, pior naquela situação. Conversas tipo tempo e afins põe-me doida. Custou a perceber. Entretanto como via que não lhe dava conversa focou-se no meu comportamento. Descobriu o cenoura no wallpaper do telemóvel. Subiu-lhe logo, das entranhas mais profundas, a vontade já adormecida: "Esse coelhinho que tem no telemóvel é seu?" Estava armada, impossível contornar. Toca-lhe o telemóvel: ring song: "o pai da criança" entreteu-se no telefone e esqueceu-se de mim. Chamada no intercomunicador, desta vez para ser vista pelo especialista. Denominador comum com a triagem: "Onde foi?" Deveras importante no diagnóstico. Vale que foi numa zona chique, pode ser que dê pontos. Encaminhada para raio X. Desta vez não me arrumaram, fiquei espalhada no meio da sala de espera. É como em tudo, há auxiliares arrumadinhos e outros que deixam tudo pelo chão. Entrada no raio X, denominador comum à triagem e ao especialista: "Onde foi?" O retorno à ortopedia, desta vez para uma sala nova. Aí é que foi esperar. Dois sem abrigo dormiam refastelados nas poltronas das colheitas. Que bom que ficaram doentes, não parecia nada de grave e tiveram uma noite descansada. O despertar foi peculiar: "Olha lá aquela não é a gerente?" "Eh a gerente, pra trás e pra frente" e pronto acabou a conversa. Passaram umas duas horas, finalmente chamaram-me ao especialista: Mostrou-me e explicou a radiografia: entorse com pequena fratura, via-se bem na imagem. Aí caiu-me a ficha de verdade. Passei de imediato à marquesa para engessar. Um belo elemento da estirpe masculina, este Dr ortopedista. Top!

E pronto foi isto. Cá estamos, agora já mais conformada. Aguardemos pelas cenas dos próximos capítulos mas parece que as coisas se estão a encaminhar para um happy end. Agora com a possibilidade de uma luz só posso considerar isto um contratempo, mas na altura não havia semelhante desgraça em todo o universo. Pois somos assim, uns egoístas do pior ...

Fui bem recebida e atendida no HSJ e não me arrependi nada de não ter recorrido ao privado, apesar de ter saído de lá cerca das duas horas da madrugada. Os tempos de espera são um verdadeiro terror. O desânimo e o desespero com as horas a passar fragilizam, revoltam, humilham... Ás vezes custa a crer que tenham assim tanto que fazer para não nos chamarem. Eu sempre acreditei que sim, mas em certas alturas fica difícil...

Até já!!

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