sábado, 27 de julho de 2013

A minha avó Lucinda



Os meus avós queridos e vivos!

Olá! Ontem tivemos dias dos avós! Sim, é verdade que o dia dos avós deve ser todos os dias e do pai e da mãe e do piriquito e dos namorados, mas por mais que se reconheça que são manobras de consumo ninguém consegue ficar indiferente a estes dias e é ver toda a gente a entrar na onda.

 A minha avó Lucinda morreu há alguns anos, mas lembro-me tanto dela como dos vivos. Parece que ainda na semana passada a visitei e a deixei lá na vida dela. "Estás bem, avó? Se estás bem eu também estou bem, até à próxima".

Espero que todos vós tenham tido o privilégio de ter uma avó como eu tive. Igual às avós das histórias.  Esta andava ligeirinha, não tinha bengala nem arrastava os pés! Fazia biscoitos, filhoses e mais tarde descobriu as pipocas. Era uma festa cada vez que a ía-mos visitar. Eu fazia questão de comer os biscoitos no patio da entrada. Havia um formigueiro ao canto da escada e ao comer caíam migalhinhas que as formigas íam buscar para levar para o buraco.

Herdei dela o respeito pelos bichitos, a minha avó dizia que tinha um ratito num quarto escuro em casa e deitava-lhe comida, eu era bem capaz de fazer o mesmo.

Foi com ela que aprendi a gostar de sopa. Chegava a come-la fria do tacho, gostava porque punha "massa grossa" como eu dizia e eu sempre adorei massas.

Confesso que estava com algum receio em escrever este post porque só faz sentido falar do dia dos avós se falar na minha avó e agora nunca mais me calo ...

A minha avó ensinou-me a bordar. Dava-me guardanapos brancos, linhas, deixava-me fazer o desenho e preenche-lo com a costura. Ensinou-me o "ponto pé de flor" e o "ponto atrás". Não era de todo a minha vocação mas gostava de bordar ao lado dela. Ensinou-me a pregar botões e a fazer malha mas já não me lembro. 

Há uns 3 anos na feira do livro do Porto encontrei numa banca de livros em segunda mão o livro de contos que a minha avó tinha em cima da mesa da sala e que quando ela morreu desapareceu, alguém andou a arrumar as coisas e não sei onde o puseram. Lembrei-me tantas vezes desse livro e um dia aconteceu essa coisa mágica. "As três cidras do amor" "filho és pai serás", "o sol e a lua" ... é incrível como sabemos os contos de trás para a frente e da frente para trás mas queremos sempre que a avó nos conte. 

A avó Lucinda era vaidosa, muito vaidosa, como eu, e a minha mãe e o meu irmão. Tirava os pelos do bigode com pinça e espelho. Passava muitas temporadas cá em casa. Quando vivíamos na casa pequena dormia comigo. Eu gozava com ela porque não sabia dizer "Herman José" nem " Nicolau Breyner" e ela enervava-se. Que reles que era. 

A minha avó Lucinda viveu muitos anos comigo e ainda vive. Quase todos os dias me lembro dela. Eu não sei onde é que ela está, ou se está em algum lado, mas sei que ainda no outro dia fomos dar um passeio para encher a jarra na fonte e deitar pedrinhas. Ás vezes ía à taberna da senhora Maria buscar vinho para o lanche dos adultos, um dia escorreguei parti a garrafa e cortei-me num dedo. Fiquei com uma bonita cicatriz, a mais bonita de todas
 

Até já!



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